O conceito de “Aldeia Global” nasceu há meio século, por via do teórico Marshall McLuhan. Segundo este, as novas tecnologias iriam eliminar as barreiras geográficas e esta nova era permitiria que a Humanidade se organizasse em tribos, assistindo-se à transição do conceito de individualismo para uma identidade coletiva, a chamada “Aldeia Global”.
Ao longo dos últimos anos, a tecnologia tem vindo a suprimir as barreiras físicas que separam os territórios e as comunidades.
Esta tem vindo a permitir que hoje alguém possa, por exemplo, exercer a sua atividade profissional em Portugal para uma empresa de um país do outro lado do mundo. Há cada vez mais programadores, consultores, bloggers, criadores de conteúdo, entre outros profissionais a trabalharem à distância, usando um computador e a internet como ferramentas principais de trabalho. O mundo está a mudar, assim como a forma como concebemos e abordamos as políticas de funcionamento laboral. O trabalho remoto tem vindo a ganhar cada vez mais expressão, e para muitos tornou-se o novo normal, seja pelas medidas impostas pelo Governo neste estado de emergência, seja pela agilização de processos e recursos que este conceito proporciona.
A pandemia da COVID-19 veio reinventar e potenciar este conceito de “Nomadismo Digital”. Este é um movimento que vai ganhando cada vez mais dimensão e que permite ao nómada digital conciliar o trabalho com viagens, conhecendo em profundidade as pessoas, a cultura e a identidade dos territórios, ao mesmo tempo que investe e proporciona riqueza aos atores locais. Por outro lado para os territórios, com maior expressão nos de baixa densidade, esta é mais uma excelente oportunidade de se posicionarem e criarem condições para se assumirem como destinos privilegiados para este nicho de mercado, gerando valor na economia e permitindo esbater a dicotomia litoral do interior.
A pandemia tem afetado o turismo em todas as suas vertentes, mas pode potenciar a fixação de todos aqueles que hoje trabalham remotamente, à escala global. Uma pesquisa levada a cabo pela consultora Gartner, concluiu que mais de 80% dos 127 diretores de empresas entrevistados afirmaram ter planos para permitir o trabalho à distância mesmo depois de estarem asseguradas as condições para regressar aos escritórios.
Alguns países criaram programas de incentivo e esquemas de atribuição de vistos de residência no sentido de os dotar com condições de atratividade para promover a receção deste tipo de segmento. Portugal tem todas as condições para poder potenciar a fixação dos nómadas digitais que trabalham de forma remota, à escala global. Temos um país extremamente atrativo com características muito valorizadas por este tipo de mercado, tais como, o custo de vida relativamente baixo quando comparado com outros países do sul da Europa, a facilidade que temos com a língua inglesa (Portugal é o sétimo país do mundo com melhor proficiência em inglês, segundo o ranking “EF English Proficiency Index” de 2020), as excelentes estruturas tecnológicas e de trabalho que têm aparecido nos últimos anos, entre outros fatores.
Se consideramos a transição digital como um dos instrumentos fundamentais de desenvolvimento estratégico do país e se queremos ser uma referência neste domínio, devemos ser capazes de tomar medidas e oferecer condições para que os territórios se munam de infraestruturas robustas e que permitam apostar afincadamente neste tipo de segmento.
Artigo publicado em publituris.pt no dia 23 de novembro de 2020