Portugal, durante algumas décadas posicionou-se do ponto de vista internacional enquanto destino turístico, como um país de sol e mar. Esta direção estratégica levou-nos a chocar com alguns problemas estruturais, podemos realçar o facto de termos estado reféns de um turismo sazonal, de optarmos por uma estratégia de monoproduto que acabou por estrangular o desenvolvimento de novos produtos turísticos que hoje se assumem fulcrais para o futuro do país e realçou as assimetrias entre o interior e o litoral.
Se o paradigma que vivemos trouxe perdas irrecuperáveis, também acabou por servir como motor gerador de novas oportunidades. No que concerne ao posicionamento mercadológico do país enquanto destino turístico, fez com que nos obrigássemos a reinterpretar e repensar a forma como nos promovemos e como nos apresentamos ao mercado. As limitações ao nível da movimentação de pessoas e mercadorias a nível internacional fez com que todos nós, olhássemos para o país de forma diferente e como única alternativa para conhecer e viajar de forma segura neste verão.
A verdade é que quem conhece realmente o país que temos, facilmente percebe que não é difícil encontrar locais mágicos e revitalizadores dentro de fronteiras, não fossemos nós considerados “o melhor destino turístico do mundo” por pelo menos três anos consecutivos, entre 2017 e 2019.
Como diria Charles Darwin, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças” e depois de praticamente 6 meses após iniciarmos a quarentena, percebemos que, de alguma forma seguimos estas sábias palavras e na generalidade nos soubemos ajustar a esta nova realidade. Esta adaptação tem feito com que os portugueses e outros visitantes tenham procurado outro tipo de experiências turísticas explorando os sabores, as paisagens, a cultura, a diversidade e as inúmeras experiências em vários segmentos que estão disponíveis nas diferentes regiões do país. A verdade é que a cada dia todos nós vamos revelando o melhor de Portugal através das várias partilhas nas redes sociais de tantos lugares e experiências que nem sonhávamos que existissem e estavam aqui tão perto.
Esta operação de descobrir Portugal, gerou em si também uma oportunidade de contribuir de forma ativa para o relançar do setor turístico e da economia nacional, superando alguns dos efeitos provocados pela crise da COVID-19.
Num cenário de feroz competitividade mundial e elevado risco de contágio, como é o atual, operações como estas podem fazer a diferença no que respeita à atração e manutenção de riqueza em território nacional. Este paradigma vem também mostrar-nos que a aposta no mercado interno e no mercado interno alargado não deve ser esquecida e deverá ser sempre uma prioridade para Portugal, até porque neste contexto, diversos estudos comprovam que os países que apostaram acima de tudo nos mercados internacionais estão hoje com baixos índices de procura.
Aprovado o Plano de Recuperação Económica na UE, é hora de colocar mãos à obra numa estratégia integrada que seja capaz de fazer face às consequências sociais e económicas da pandemia da COVID-19. É um desígnio nacional sermos assertivos na operacionalização deste plano e que consigamos de uma vez por todas relançar a economia portuguesa, apostar na coesão territorial, na sustentabilidade, na captação de investimento e na tão importante redução de assimetrias entre o interior e o litoral por um país mais unido, mais forte e mais coeso.
Artigo publicado em publituris.pt no dia 28 de agosto de 2020